Com duas vitórias avassaladoras por finalização no UFC, Charles “do Bronx’s” Oliveira vai fazer sua terceira luta em menos de quatro meses. A pedreira da vez será o lutador Jim Miller, que vem de cinco vitórias consecutivas, e Charles sabe que se vencer vai começar a ser visto como um provável aspirante ao título. Em entrevista exclusiva à TATAME, que você lê na íntegra aqui, o lutador já imagina como pode se desenrolar esse confronto.
“Eu quero deixá-lo vir no primeiro round porque eu sei que ele vai vir que nem um louco e, nas minhas lutas, ninguém veio assim para cima de mim. Acho que ele vai querer partir para o tudo ou nada, vai querer nocautear ou finalizar. Eu vou trabalhar o chão com calma, sempre para frente... Mas na hora lá a gente nunca sabe”, disse Charles, revelando o sonho de enfrentar seu ídolo, o ex-campeão dos leves e meio-médios BJ Penn.
“O BJ é o cara. Acho que muito tempo ganhando de todo mundo, muito tempo batendo em todo mundo deu uma desestabilizada no cara, é bom perder às vezes. Meu maior sonho é lutar com ele. Seria uma honra para mim lutar com o BJ, independente se eu ganhasse ou perdesse. Queria mostrar o meu jogo para cima dele porque ele é o cara, é o cara da categoria. Se ele voltar do jeito que ele está, ele é o dono da categoria”.
Com 17 lutas e nenhuma derrota no MMA, Charles “Do Bronx´s” Oliveira estreou no UFC a todo vapor. O faixa-marrom de Jiu-Jitsu conseguiu a finalização em cima de Darren Elkins em apenas 41 segundos. De azarão, Charles passou a ser notado e sua segunda luta no UFC veio um mês depois, já no card principal, contra Efrain Escudero, onde conseguiu mais uma finalização impressionante. A próxima missão do garoto de Santos é enfrentar Jim Miller, que vem de cinco vitórias consecutivas, em luta agendada para dia 11 de dezembro. O desempenho do lutador tem agradado tanto que essa vai ser a terceira luta em menos de quatro meses e a TATAME aproveitou para trocar uma idéia com o casca-grossa que falou sobre diversos assuntos. O rapaz de 21 anos fez um balanço sobre sua carreira, falou sobre a primeira coisa que comprou quando ganhou o bônus de U$ 40 mil pela melhor finalização da noite, comentou sobre o sonho de enfrentar BJ Penn entre muitos outros assuntos que você confere abaixo.
Você apareceu para o mundo naquele GP do Predador. Como foi?
Então, no Predador a categoria era 77kg, e eu pesei 72kg de calça jeans e tênis, casaco. Graças a Deus eu fiz três lutas bem. Ganhei de caras que tinham quinze vitórias, como Lima Braga, Jackson Pontes, e eu tinha acabado de completar 18 anos, tinha acabado de estear e não sabia nem o que era o Vale Tudo direito. Cai lá dentro praticamente de pára quedas no meio dos leões e consegui fazer o meu trabalho, usar o meu Jiu-Jitsu, graças a Deus. Ganhei três lutas lá e ganhei bem.
Óbvio que você vai na confiança... Mas, naquela época, você achou que o resultado seria tão bom quanto foi?
Na verdade mesmo, eu falei para o meu professor que eu não sabia que eu poderia ganhar as três lutas. A gente conversou e a gente sabia que a minha trocação não era boa, não era nada. Eu nunca tinha treinado nada de Vale Tudo. O que eu sabia é que o meu Jiu-Jitsu era melhor do que o de qualquer cara que estivesse lá dentro. A minha equipe falou e eu acreditei neles. Eles falaram para mim: “o seu Jiu-Jitsu é melhor do que o de todo mundo. Se você colocar todo mundo para baixo, você vai ganhar”. Foi o que acabou acontecendo. Na primeira luta, quando ele veio, eu fiquei girando, girando para esperar um espaço para levá-lo para baixo. Peguei no mata-leão. Na segunda, eu fiquei surpreso porque eu ganhei por nocaute, e a minha final foi contra o Diego Braga, que eu acabei finalizando também. Fui bem para caramba. Na minha cabeça, eu não estava esperando isso. Na minha cabeça, eu sabia que eu podia fazer um papel bonito, mas não que ia ganhar.
Eu te conheci no Eagle Fight, de Guarulhos, e fiquei impressionado com a sua trocação, e só depois que fui saber que você era oriundo do Jiu-Jitsu. Há quanto tempo você começou a praticar Muay Thai?
Cara, eu comecei a treinar bastante Vale Tudo quando eu fiz 18 anos.
Até então era só pano?
Só pano... Depois da minha primeira luta no Predador, eu comecei a treinar Vale Tudo, que é a mistura de tudo. Nunca treinei Muay Thai separado, nunca treinei Boxe separado... Só o Jiu-Jitsu separado. Sempre fiz uma mistura das artes mesmo. Logo depois que eu apareci, as pessoas ficavam falando: “O Charles do Bronx’s só sabe finalizar, ele só sabe Jiu-Jitsu”, e aquilo ficou na minha cabeça, eu sabia que tinha que começar a aprender outras coisas. Isso foi uma coisa positiva porque quando eu ia treinar com os moleques que sabiam muito mais porrada do que eu, eu não botava para baixo, eu ficava apanhando porque quando você apanha, você aprende. Na época, o Macaco ainda estava no Brasil e a gente vinha para a matriz em São Paulo e eu treinava com os tops do Brasil, na época a melhor equipe de mundo. Eu estava treinando igual um louco, treinando na academia com uma molecada boa e comecei a aprender trocação.
Qual foi a luta na sua carreira que foi o divisor de águas, que fez você pensar que você estaria pronto para qualquer desafio?
Acho que todas as minhas lutas. A cada luta que eu fui fazendo, eu fui aprendendo mais. Ontem mesmo, eu estava conversando com um amigo meu, e estávamos falando que, o cara quando ganha a luta, pensa que está bom o jogo. Eu não. Na primeira vez, eu lutei 41 segundos no UFC, e eu já vi esses 41 segundos mais de cem vezes. Eu troquei, ele quis me colocar para baixo e eu tentei finalizar ali mesmo. Eu já assisti essa luta muitas vezes, eu gosto de aprender, ver o que eu errei e o que eu não errei, ver o que eu devo ou não fazer. Quando vem um cara dar aula para mim, eu quero aprender, quero sugar o máximo que eu posso, e eu acho que é isso.
Mesmo bem treinado, não bateu um nervosismo na sua estreia no UFC?
Treinado a gente sempre entra. Na primeira vez que eu fui lutar em um grande ringue, eu estava muito nervoso, a minha família sabia disso, eles falavam no rádio comigo e dava para perceber que eu estava nervoso. Mas no UFC eu estava tranquilo, era um sonho realizado para mim, eu sabia que era aquilo que eu queria. Se eu tivesse focado, se eu tivesse bem, eu poderia fazer um lutão...
Você terá cada vez mais pedreiras pela frente, como já foi o caso da sua segunda luta, contra o Efrain Escudero, um cara que veio diretamente do TUF...
O cara era do time do Minotauro, entrou no Ultimate e começou a fazer uns lutões, é um cara que é um grande nome. Eu tinha ganhado a luta em 41 segundos e me colocaram contra um cara duro. Eu sempre quis lutar com os melhores. Se é para ganhar, que seja contra os melhores, não dá para escolher... Quem eles mandarem, eu luto. Fiz um lutão. O jogo dele é de entrar e sair, então eu entrei no meu jogo, joguei rápido para ser uma prova para mim mesmo, sabendo que eu ia aguentar todos os rounds porque a minha preparação estava em dia.
Ele te acertou uma joelhada ilegal, você sentiu e ele se aproveitou do momento para fazer uma firula, tentando colocar a torcida contra você...
Dentro do vestiário, eu, Ericson e Macaco estávamos conversando, falando que, em quase todas as lutas dele, ele acerta a parte íntima do cara, e eu sabia que isso podia dar uma desestabilizada. O meu chute, eu tenho certeza que não pegou, mas eu pedi desculpas na hora. Olhando o vídeo, você pode ver que não pega, acho que a coquilha subiu. Quando pegou, subiu e até cortou o meu pé, então na hora eu me concentrei para não me desestabilizar. O Macaco falou “calma”, o Ericson me mandou ter calma também, e quando eu voltei, voltei querendo continuar o trabalho que eu estava fazendo. Estava liderando os dois primeiros rounds, mas sabia que eu tinha nocautear ou finalizar, não dá para deixar na mão dos americanos ali.
E as quedas?
Eu estava treinando muito a parte da trocação e acabei deixando a parte das quedas para lá, então acho que, para a minha próxima luta, eu vou treinar mais queda. Nessa luta com o Escudero eu quis mais mostrar a minha trocação para as pessoas não ficarem falando que eu só sei Jiu-Jitsu. Eu botei ele para baixo uma vez no segundo e uma vez no terceiro round, mas agora eu quero mostrar um jogo diferente, ainda mais agressivo... Quero cada vez ser mais agressivo no octagon.
Onde você vê uma brecha para entrar no jogo do Miller?
Cara, o Jim Miller é um cara que todo mundo fala que ele é melhor no Jiu-Jitsu, mas eu acho que não. Eu acho que ele é um cara completo, que tanto joga em pé quanto no chão. Da minha parte, eu quero deixá-lo vir no primeiro round porque eu sei que ele vai vir que nem um louco e, nas minhas lutas, ninguém veio assim para cima de mim. Acho que ele vai querer partir para o tudo ou nada, vai querer nocautear ou finalizar. Eu acho que ele vai me botar para baixo, mas eu não tenho medo de ir para baixo. Meu Jiu-Jitsu está sempre vindo no mesmo nível, então eu acho que ali não vai ser diferente do que era no Brasil. Eu vou trabalhar o chão com calma, sempre para frente. No segundo round eu preciso ser mais agressivo, trocar com ele, colocá-lo para baixo. Isso eu estou falando aqui, mas na hora lá a gente não sabe. Ele pode dar um vacilo, pode querer só trocar, só colocar para baixo. Eu acho que vai ser uma luta de guerreiros, eu acho que ele tem mais chances de pegar o cinturão do que eu porque ele tem mais vitórias. Ele quer mostrar o espaço dele, mas eu também quero mostrar o meu espaço.
O seu cartel, no site Sherdog, não está certo. Qual é o seu cartel no momento?
Hoje o meu cartel está 17-0. Está errado lá no Sherdog, estou tentando arrumar isso...
E em relação a nocautes e finalizações?
Cara, acho que são oito finalizações sete nocautes e uma decisão...
Você acha que essa luta pode te credenciar a um patamar acima, em busca do título?
Na minha vida, na minha carreira, eu sempre quis dar um passo de cada vez, não só na parte de Jiu-Jitsu e Vale Tudo, mas como fora também. Eu não quero dar um passo maior do que eu posso, não tenho pressa e também não vai ser diferente, vai ser devagar. É a mesma coisa que eu falei para os meus treinadores. Eu falei: “pessoal, eu não escolho lutador”. Eu tenho certeza de que se eu ganhar dele, eu posso dar mais um passo na escada do UFC e eu deixo nas mãos deles saber quem vai e quem não vai disputar o cinturão.
Como você vê essa categoria, que tem o Frankie Edgar no topo hoje?
Cara, o Frankie Edgar é merecedor de tudo que tem, só que eu acho que o nome da categoria é o BJ Penn... O BJ é o cara. Nessa luta dele, ele mostrou para todo mundo que, quando ele está na “vibe”, quando ele quer... Acho que muito tempo ganhando de todo mundo, muito tempo batendo em todo mundo deu uma desestabilizada no cara. É bom perder. Méritos para o Frankie Edgar, mas eu acho que o BJ não estava no auge dele, no tempo dele. Nessa luta dele, ele mostrou para todo mundo. Eu acho que o dono da categoria é ele.
Se tiver que lutar com ele, como vai ser?
O sonho é esse. Quando vi o Frankie Edgar, eu pensei que eu teria que lutar com ele, se fosse lutar pelo cinturão, mas seria uma honra para mim lutar com o BJ, independente se eu ganhasse ou perdesse. Queria mostrar o meu jogo para cima dele porque ele é o cara, ele é o cara da categoria. Torci para ele. Se ele voltar do jeito que ele está, ele é o dono da categoria.
Você é um cara que vem de origem humilde, e agora está ganhando uma grana no UFC. Como fazer para não desestabilizar e manter os pés no chão?
Primeiro, eu acho que a família vem na frente, é fundamental para tudo, eu tenho namorada... Eu nunca fui para balada na minha vida, nunca fumei, nunca usei drogas, nunca bebi. Acho que aqui no Brasil sempre pintou isso, coisas que todo mundo sabe que acontece. Essas coisas não são para mim. Atleta verdadeiro não bebe, não fuma, não sai em balada. Tem a parte de lazer, sim... O meu lazer é ficar com a minha namoradinha, ir à praia, pegar a minha família e ir para o sítio de um amigo meu. Quando eu ganhei a minha primeira luta, eu ganhei US$40 mil. Sabe a primeira coisa que eu comprei? Um carrinho de controle remoto lá nos Estados Unidos. Eu nunca tive... Ontem mesmo estava em casa e fui soltar pipa com os moleques, compramos a linha e fomos lá soltar...
Eu moro há duas ruas da favela, conheço todo mundo. Apesar do que eu ganhei, com o dinheiro que eu tenho, com o dinheiro que eu consegui ter, eu dei uma reforma na minha casa, dou uma coisa melhor para a minha mãe. Hoje, graças a Deus, eu posso dar para a minha mãe e meu pai aquilo que eles sempre me deram. Hoje eu estou centrado, nunca tive aquele espírito de moleque. A gente vai ao UFC e os caras pedem para tirar foto com você e eu vou de boa... Tem cara que fala que não pode. Eu acho que isso é palhaçada. Você tem que ser humilde. Às vezes, sem querer, eu deixo passar uma coisa, aí vem a minha mãe e fala: “Charles, cuidado. Você deixou passar isso aí”. Às vezes é difícil porque você faz uma coisa sem querer e a pessoa já acha que você é marrento.
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